quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Da falta do que fazer que gera inevitavelmente um sentimento de falta de sentido na vida

Sou uma pessoa dada ao ócio. Adoro não fazer nada, ou fazer coisas inúteis, como ver televisão por horas seguidas, zapeando sem compromisso. Mas existem ócios e ócios... O ser humano – pelo menos a maioria deles – tem a peculiar necessidade de sentir-se útil e produtivo. Precisam encontrar sentido na prática de suas atividades cotidianas; sentido este que passa a ser o norte para a vida e a existência. Eu, como era de se esperar, não sou diferente de ninguém. Preciso fazer coisas que preencham e dêem sentido à minha vida, que me motivem a continuar fazendo mais e mais coisas ligadas à minha essência, ao meu caráter, aos meus interesses.

Mas o ser humano precisa também sobreviver ($$$$$$$$$$$$). Precisa trabalhar para ganhar o pão de cada dia. Muitos fazem dessa atividade o sentido de suas vidas. Não é o meu caso. Gostaria muito de me sentir preenchida por minha atividade profissional. Gostaria de alimentar minha alma com o fruto do meu trabalho. Mas não acontece comigo dessa maneira. Muitos dizem que a vida adulta é assim mesmo: fazer coisas de que não gostamos, mas que temos que fazer. Será? Eu penso que pra tudo nessa vida tem um preço. Eu poderia – talvez até ainda possa, quem sabe, um dia, encontrar um resultado satisfatório para essa equação – tentar trabalhar com arte e viver na incerteza financeira. Eu podia ser professora e viver insegura e infeliz. Eu podia vencer toda minha preguiça e estudar o suficiente para me tornar uma instrumentista decente. Mas eu preferi mudar de área. E conquistar a tal da estabilidade financeira. Hoje eu não ganho muito, mas tenho um emprego de carteira assinada. Se eu continuasse na carreira artística, talvez estivesse com o mesmo dinheiro, com menos, com mais, como saber? E poderia estar mais feliz. Ou não... Como saber?

O que eu sei é que atualmente minha profissão não me deixa feliz nem ao menos um pouquinho. Tenho sinceras esperanças de que isso venha a mudar ou melhorar. Pelo menos um pouquinho. Estou aterrada em ócio compulsório. Não sou dona do meu tempo. Às vezes acho que vendi minha alma ao diabo corporativo. Mas a vida me ensina a ter paciência. E a investir o pouco tempo que me resta (pouco mesmo...) em mim, em minha essência, em meu amor por mim e pelos outros. E seguir em frente. Quem sabe um dia não fico um pouquinho mais satisfeita com o trabalho?
Sou feliz, tenho apenas algumas dificuldades! ;)

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