Meu primeiro beijo foi das piores experiências da minha vida..........................
O dito cujo era um rapaz que morava no prédio do meu pai, por quem eu estava apaixonada havia uns dois anos (e olha que quando você tem doze anos dois deles representam uma porcentagem relativamente alta do total de sua existência...). No ano-novo finalmente ele pediu pra ficar comigo.
Entrei em pânico!!! :
Tentando encontrar alguém com quem dividir minha agonia e na esperança de receber algum apoio e calma por parte de uma alma caridosa, fui falar com a Mara (esse não é o nome real dela... aliás, nenhum que aparecer aqui vai corresponder à realidade), uma das filhas da então mulher do meu pai. Aflitíssima, pedi conselhos, pois eu não sabia beijar. Ah! um detalhe importante: a Mara também era apaixonada pelo menino, que na época tinha 16 anos. A única coisa que a vaca conseguiu fazer diante da minha aflição foi rir. Ah! outro detalhe: eu e Mara vivíamos uma relação horrorosa de competição velada. Essa menina marcou minha vida negativamente para sempre... até hoje tenho sonhos de competição com ela. Mas enfim... a gente competia muito: quem tinha o peito maior (eu levava vantagem, porque menstruei muito cedo e meu corpo se desenvolveu logo, enquanto nela demorou a aparecer...), quem era mais loira (essa eu perdia...), de quem era a casa, etc. E, claro, já havíamos falado de beijo, e ambas afirmaram categoricamente que sabiam beijar e já haviam passado pela experiência. Eu estava mentindo, claro, mas nunca imaginei que ela pudesse mentir sobre isso também. Inocente, eu...
Fato é que eu fui pedir conselhos imaginando que ela teria algo a me ensinar, mas qual foi minha surpresa quando ela disse que também nunca tinha beijado. A ironia foi que naquela noite ela também beijou pela primeira vez. O Lucas, amigo inseparável do Roberto, nosso objeto de amor, quis ficar com ela, e assim foi.
Eu estava sem ter a menor idéia do que fazer e ainda tinha tomado aquelas risadas na cara, o que me deixou muito triste. Pensando bem, a menina deveria estar tão deseperada quanto eu... talvez aquelas risadas tenham sido de nervoso, coitada! Bom, lá fui eu, pavor em forma de gente, enfrentar o primeiro real desafio homem-mulher da minha vida.
Cheguei na frente do indivíduo e vivi o momento de maior constrangimento de toda minha pré-adolescência. Falei pra ele com todas as letras que nunca tinha beijado ninguém. Ele me olhou com cara de quem não tava acreditando naquilo de maneira nenhuma e eu soltei: "mas a gente pode tentar..." Não sei por que cargas d'água as pessoas me achavam com cara de experiente...
E então ocorreu o tal beijo, a coisa mais nojenta e mal feita da face da Terra.
Eu, decepcionadíssima, pensava cá com meus botões: mas é ruim!!!!!!!!!!!!!!!!!!! como que as pessoas podem gostar disso, que textura estranha tem a língua, que cheiro esquisito tem o cuspe, que melecada, eu quero sair daqui!!!
Mas o pior ainda estava por vir!!
Terminada a experiência liquidificador-acelerado-em-sentido-horário-sem-nenhum-proveito-positivo, o insensível do guri me solta as seguintes palavras, das quais demorei anos para me recuperar: "agora eu tenho que subir". Pronto! Pra mim, aquilo foi equivalente a dizer: "agora eu tenho que subri e contar pra todo mundo". Ai!!! Aquilo doeu fundo na minha alma!! Fiquei com cara de nem sei o quê, perplexa, quase vomitando de nervoso e subi. Os dois dias seguintes foram horríveis, eu me consumindo em devaneios sobre o que aquele crápula estava espalhando sobre mim na comunidade predial, não passava nada no estômago, sem uma palavra de carinho ou ajuda vinda de canto algum... foi horrível! Como disse antes, demorei anos pra me recuperar desse trauma, para acreditar que eu sabia beijar e pra ter coragem de tentar de novo.
Ser adolescente não é mole não!
Um comentário:
Que delícia de texto! Fiquei aliviada de ver que alguém teve uma experiência tão parecida com a minha. Depois os beijos ficam melhores e a gente consegue rir deles e até escrever textos deliciosos como este seu.
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