terça-feira, 8 de julho de 2008

A Religião de Si

Desde a pré-adolescência me interesso por assuntos ligados à espiritualidade. Fui apresentada ao mundo fantástico de Carlos Castañeda (por meu padrasto, grande antropólogo) por volta dos 13 anos de idade e devorei cada livro dele em que pude colocar as mãos. Sempre pareceu pra mim, sem necessidade de prova ou argumento forte, que Don Juan tinha razão: existe muito mais no mundo do que podem enxergar nossos olhos. Nunca pensei muito em Deus, nunca me passou pela cabeça questionar a existência de uma realidade maior e de um criador para essa realidade. Pra mim, Deus é. E ponto.

Meu núcleo familiar sempre foi muito aberto a idéias espiritualistas, embora nunca ninguém tenha falado em religião. Tínhamos sessões de leituras e conversas denominadas carinhosamente de “estudinhos”, onde um trecho de livro, texto ou assunto era compartilhado de maneira livre e a origem do material era a mais diversa possível: Filosofia Sufi, Gurdjief, Castañeda e assim por diante. Era muito gostoso. Numa dessa ocasiões a filha do meu padrasto trouxe ao nosso estudinho um “método” – na verdade acho essa palavra absolutamente inadequada. Dá uma conotação de auto-ajuda, de solução pronta, de charlatanismo que passa longe do que é na realidade o propósito da proposta do Pathwork. Mas enfim, ela nos apresentou o tal “Método Pathwork”, que nada mais é do que a reunião de palestras proferidas por um guia espiritual através de uma médium. Ele falou através dela por mais de uma década e parte desse material foi organizado em livros, além de estar disponível para download em inglês.

Considero este material uma preciosa fonte de estudo e aprendizado para qualquer pessoa que se interesse pela espiritualidade, mas não sinta necessidade, vontade ou identificação com nenhuma religião. Na minha opinião está ali descrito o que é necessário saber e fazer para tornar-se uma pessoa cada vez mais consciente de si, mais alerta a seus mecanismos doentios e mais capaz de transformar-se a fim de evoluir espiritualmente.

Essa semana completa-se 5 anos desde que resolvi fazer parte de um grupo, em determinada religião. Me comprometi a estar presente quinzenalmente numa sessão que dura mais de 5 horas, aos sábados, e doar meu tempo e energia para auxiliar pessoas que procuram por ajuda e conforto espiritual. Nunca senti como sacrifício este compromisso. Sempre saí das sessões realizada, com a alma lavada, me sentindo muitas vezes esgotada fisicamente, mas com um sentimento de satisfação enorme.

Continuo sentindo-me assim quando uma reunião é bem sucedida, quando conseguimos ajudar bastante gente ou, como dizemos, quando trabalhamos bastante.

Só que de uns tempos pra cá, sinto-me distante... sinto-me incompleta, sinto meu coração um pouco afastado daquela prática.

Sinto muita falta de ter um lugar ou pessoas com quem conversar sobre as coisas que podemos fazer para nos tornarmos pessoas melhores. Sinto necessidade de ver gente comprometida com seu próprio ser, com coragem de olhar sinceramente para si e encarar o que encontrar lá dentro. Ver a precariedade e querer realmente transformar. Em si. Depois nos outros, através da percepção de que tudo está ligado, então quando você melhora ou muda uma atitude aqui, ali alguém, perto ou longe de você, vai sentir essa diferença e vai mudar também.

As pessoas têm tanta dificuldade em se relacionar, é tão difícil pra todo mundo conseguir conviver com os defeitos dos outros... mas e os seus próprios? Como evoluir espiritualmente sem investir na evolução da personalidade? Onde está esse limite? Por que as pessoas não vêem que é tudo a mesma coisa?

Sites do Pathwork:

http://www.pathwork.org/
http://www.pathworksp.com.br/path/
http://www.pathworkrio.com.br/

Façam bom proveito!

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Salve Jorge!


Oração de São Jorge
"Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge, para que meus inimigos tendo pés, não me alcancem, tendo mãos, não me peguem, tendo olhos, não me enxerguem, e nem em pensamento eles possam me fazer o mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças quebrarão sem meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrar."
Um lindo ponto de Ogum
"Ele venceu a guerra
Ele tocou Clarim
Ele venceu a guerra
Ele tocou Clarim
O exército todo
Na madrugada
Salve Ogum Rompe-mato
Salve Ogum Matinata!"

quinta-feira, 26 de junho de 2008

The Kiss

Esse quadro de Gustav Kimt é das imagens que mais me emocionam... traduz com delicadeza o momento, o sentimento, o carinho, a intimidade e o amor de um casal. Reparem na mãozinha dela tocando na dele, na expressão de deleite em seu rosto, em como esse beijo aquece aquele coração. Parece ali uma mulher com seu companheiro inequívoco, quente, aconchegante e seguro.


É lindo!

O primeiro beijo

Meu primeiro beijo foi das piores experiências da minha vida..........................

O dito cujo era um rapaz que morava no prédio do meu pai, por quem eu estava apaixonada havia uns dois anos (e olha que quando você tem doze anos dois deles representam uma porcentagem relativamente alta do total de sua existência...). No ano-novo finalmente ele pediu pra ficar comigo.


Entrei em pânico!!! :


Tentando encontrar alguém com quem dividir minha agonia e na esperança de receber algum apoio e calma por parte de uma alma caridosa, fui falar com a Mara (esse não é o nome real dela... aliás, nenhum que aparecer aqui vai corresponder à realidade), uma das filhas da então mulher do meu pai. Aflitíssima, pedi conselhos, pois eu não sabia beijar. Ah! um detalhe importante: a Mara também era apaixonada pelo menino, que na época tinha 16 anos. A única coisa que a vaca conseguiu fazer diante da minha aflição foi rir. Ah! outro detalhe: eu e Mara vivíamos uma relação horrorosa de competição velada. Essa menina marcou minha vida negativamente para sempre... até hoje tenho sonhos de competição com ela. Mas enfim... a gente competia muito: quem tinha o peito maior (eu levava vantagem, porque menstruei muito cedo e meu corpo se desenvolveu logo, enquanto nela demorou a aparecer...), quem era mais loira (essa eu perdia...), de quem era a casa, etc. E, claro, já havíamos falado de beijo, e ambas afirmaram categoricamente que sabiam beijar e já haviam passado pela experiência. Eu estava mentindo, claro, mas nunca imaginei que ela pudesse mentir sobre isso também. Inocente, eu...

Fato é que eu fui pedir conselhos imaginando que ela teria algo a me ensinar, mas qual foi minha surpresa quando ela disse que também nunca tinha beijado. A ironia foi que naquela noite ela também beijou pela primeira vez. O Lucas, amigo inseparável do Roberto, nosso objeto de amor, quis ficar com ela, e assim foi.


Eu estava sem ter a menor idéia do que fazer e ainda tinha tomado aquelas risadas na cara, o que me deixou muito triste. Pensando bem, a menina deveria estar tão deseperada quanto eu... talvez aquelas risadas tenham sido de nervoso, coitada! Bom, lá fui eu, pavor em forma de gente, enfrentar o primeiro real desafio homem-mulher da minha vida.


Cheguei na frente do indivíduo e vivi o momento de maior constrangimento de toda minha pré-adolescência. Falei pra ele com todas as letras que nunca tinha beijado ninguém. Ele me olhou com cara de quem não tava acreditando naquilo de maneira nenhuma e eu soltei: "mas a gente pode tentar..." Não sei por que cargas d'água as pessoas me achavam com cara de experiente...

E então ocorreu o tal beijo, a coisa mais nojenta e mal feita da face da Terra.

Eu, decepcionadíssima, pensava cá com meus botões: mas é ruim!!!!!!!!!!!!!!!!!!! como que as pessoas podem gostar disso, que textura estranha tem a língua, que cheiro esquisito tem o cuspe, que melecada, eu quero sair daqui!!!


Mas o pior ainda estava por vir!!


Terminada a experiência liquidificador-acelerado-em-sentido-horário-sem-nenhum-proveito-positivo, o insensível do guri me solta as seguintes palavras, das quais demorei anos para me recuperar: "agora eu tenho que subir". Pronto! Pra mim, aquilo foi equivalente a dizer: "agora eu tenho que subri e contar pra todo mundo". Ai!!! Aquilo doeu fundo na minha alma!! Fiquei com cara de nem sei o quê, perplexa, quase vomitando de nervoso e subi. Os dois dias seguintes foram horríveis, eu me consumindo em devaneios sobre o que aquele crápula estava espalhando sobre mim na comunidade predial, não passava nada no estômago, sem uma palavra de carinho ou ajuda vinda de canto algum... foi horrível! Como disse antes, demorei anos pra me recuperar desse trauma, para acreditar que eu sabia beijar e pra ter coragem de tentar de novo.

Ser adolescente não é mole não!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Criatividade

Acho fascinantes as pessoas que têm livre e fluido o canal da criatividade. Sim, porque isso é uma coisa que dizem que todo mundo tem, mas é mentira. Eu, por exemplo, sei que preciso de muito investimento e concentração para conseguir liberar o canal. Não pode ser em qualquer momento, não pode ser em qualquer lugar, nem com qualquer coisa. Eu tenho que me preparar, me concentrar, me munir de materiais adequados, etc. Adoro escrever, mas tem dia que não sai nada... adoro desenhar, mas tem dia que só sai o mesmo olho que desenho desde os 13 anos de idade. Eu queria ser assim, uma artista nata, de vocação inequívoca, que morreria de coração seco se não fizesse arte. Acho isso muito lindo. Mas eu não sou não. Pra sair alguma coisa tem que ralar... mas também quando sai é uma beleza!! Fico um tempão lambendo a cria, lendo e relendo se for texto, olhando e reolhando se for desenho, colagem ou outra coisa plástica. Depois publico aqui alguns exemplares.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Quem tem medo de crescer?

Na minha opinião, todo mundo! Porque dói!! Pra caramba! Essa temática tem me perseguido desde que a idade começou a avançar e inevitavelmente com ela veio a cobrança, principalmente minha mesmo, de ter emprego, dinheiro, independência, casamento, filhos, qualidade de vida e por aí vai. Só que mais do que TER tudo isso, bem antes mesmo... é preciso estar em paz com a pessoa que somos, e passar pelo processo de crescimento da maneira menos traumática possível.

O bicho homem é dos poucos que não nasce caminhando com as próprias pernas. Ao nascer somos frágeis e inacabados, necessitamos ainda de muitos cuidados até a independência, biologicamente falando. Socialmente, esse tempo vai ficando cada vez mais longo... me parece que está cada vez mais difícil tornarmo-nos adultos. Mas por quê?

Acho que tudo vem do conflito entre prazer e dor. Calma, vou explicar. A gente quando criança aprende bem rápido a procurar pelo que nos causa prazer e repelir o que causa desconforto, ou dor mesmo. A gente aprende por instinto que dor é ruim e foge dela como Diabo da cruz. Só que quando a gente cresce, supondo que somos seres saudáveis, vai começando a perceber que não há maneira de fugir da dor, que fantasiamos uma dor muito maior do que ela é na verdade e que a dor traz consigo, invariavelmente, um crescimento que de alguma forma vai ser bom pra gente. Por que precisamos resistir tanto? Por que sofrer por antecipação e não enfrentar com coragem o que a vida nos reserva? Por que reagir? Por que se rebelar? Por que se deixar paralisar?

Pelo medo, eu imagino. Medo de sofrer, medo de não conseguir, medo de não atender às expectativas dos outros, medo de ser incompetente, medo que todo mundo descubra que não somos quem parecemos ser, medo de não ser amado, medo de perder algo ou alguém, medo de ser abandonado. Um monte de medos que tiram da gente a tranqüilidade necessária para curtir a vida. Fico pensando que passo tanto tempo precioso preocupada com coisas que só me tiram a energia e o sossego. E enquanto isso o tempo que eu perdi pensando ou sentindo coisas negativas, não volta, não pára, não me dá trégüa. Mas é preciso também tempo pra gente chegar a essa conclusão. E mais tempo ainda pra poder colocar em prática. Ainda bem que a medicina avança e a expectativa de vida vem aumentando muito! Rs.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Muito tempo atrás

Há muito tempo atrás já ouvia dizer de mim certas coisas que incomodavam... o que é que a gente faz quando tenta, tenta mudar alguma coisa na gente mesma e não consegue? Como a gente faz pra confiar mais nos outros? Sou uma pessoa muito, muito calada. E muito, muito fechada. Quando eu era adolescente e namorava um cara que não tinha absolutamente nada a ver comigo (morava na Barra, estudava na PUC, era muito playboy e por aí vai...) não conseguia me sentir a vontade com os amigos dele de maneira nenhuma: era gente inconseqüente, irresponsável, desrespeitosa, barulhenta, e eu me sentia um peixe rosa florescente fora d'água... ganhei o desagradável apelido de "alface" porque não conseguia dar uma palavra sequer. O tempo foi passando e esse apelido indesejado de vez em quando vem à tona, quando me encontro em situações que lembram aquele passado morto e enterrado. E dói... porque eu não quero ser uma alface. Quando me insiro em um novo ambiente social, custo muito a relaxar. Se não tenho a chance de rever aquelas pessoas por, pelo menos, mais umas 3 vezes, a probabilidade de deixar uma má impressão é gigantesca! Fico séria demais, não consigo puxar assunto, enfim... difícil pra caramba... mas o que tem acontecido ultimamente é muito pior do que isso...
Ando completamente indentificada com a Alface... me sinto assim mesmo: uma coisa que você tem que comer porque é saudável e vai te ajudar a digerir os outros alimentos, mas que, na verdade, na verdade, não tem gosto de nada, é sem graça. Estou me sentindo desinteressante como uma alface. É claro que eu sei que não sou somente uma alface. Existem aspectos de minha pessoa que são interessantes... mas... no dia-a-dia... me sinto assim.
Não gosto muito de sair, não bebo, não fumo, adoro um ócio, no tempo livre gosto de ir à praia, dar uma caminhada em algum lugar bonito ou ir ao cinema. Conversa não é o meu forte... e agora? como ter uma convivência duradoura com um companheiro se conversa não é o seu forte? o que oferecer no dia-a-dia?